Moradores da floresta amazônica vivem em harmonia com a fauna e flora
Em um local onde o homem e a natureza convivem em harmonia, onde o tempo demora a passar, e as pessoas contam causos nas tardes quentes na beira do rio, pescando o precioso alimento, famílias vivem da forma simples cultivando a tradição da vida calma ribeirinha. Assim é a vida dos ribeirinhos de um dos mais importantes rios de Rondônia, que faz divisa entre Brasil e a Bolívia: o Rio Guaporé.
A sobrevivência desse povo guerreiro é garantida pela agricultura de subsistência, pesca e caça. Alguns chegam a cultivar pequenas produções de hortaliças para a venda, mas o sustento da família vem mesmo da pesca no Rio Guaporé. “É uma vida calma, a gente não precisa muito para sobreviver, eu mesmo criei meus filhos com o que consegui como pescador”, diz Hélio Ribeiro.
O pescador Osvaldo Laurindo, conta que as águas do Rio Guaporé são ricas em peixes. “Aqui, com o rio alto, dá para pescar pintado, jatuarana, apapá, matrinxã, pirarara, jundiá, pirapitinga, tambaqui e cachorra. Já com o rio baixo, a gente pesca peixes mais valentes como o tucunaré e o pacu-caranha, além dos outros”, explica o experiente pescador que revela que há trinta anos se dedica à pescaria. “Aprendi com meu pai minha profissão, e tenho orgulho dela. Sou pescador com carteirinha e tudo. Criei meus filhos, tirei o sustento da minha família, com o peixe do Rio Guaporé. Agora ajudo a criar meus netos”, revela orgulhoso o pescador que não pensa em se aposentar, enquanto prepara o pequeno barco para iniciar a pescaria. Osvaldo explica que quando sai para pescar passa entre 20 e 40 dias dentro do rio, mas quando volta traz não apenas saudade da família, mas muitos peixes. “Mas tudo dentro da lei. Só pesco peixe no tamanhão e no período certo, pois se eles se acabarem como vamos nos sustentar? questiona o pescador.
Para matar a fome, os ribeirinhos comem peixe e farinha. “Não tem uma família que não sente em uma mesa que não tenha um pouco de farinha para a mistura da comida, né? É importante, porque às vezes não tem outras coisas. A farinha serve para a mistura”, explica a ribeirinha Maria Aparecida Souza, mãe de três filhos, enquanto serve peixe com farinha para seus filhos.
A canoa é dos grandes meio de transportes para esses ribeirinhos, mas muitos também tem barcos que navegam dia e noite nas águas do Rio Guaporé. Aos 36 anos de idade, Sebastião Nascimento Brito navega desde menino pelos rios da Amazônia, numa dura rotina de pescador. Ele conhece muito bem os perigos escondidos ao longo dos rios, como as “pororocas” [fortes maresias, capazes de levar uma embarcação a pique] ou bancos de areia. “É uma rotina muito dura. É uma vida trabalhosa, mas já estamos acostumados, mesmo quando ‘tem’ chuvas fortes ou marés lançantes”, conta o pescador. Na companhia da esposa Lucia Brito, e dos quatro filhos, Brito sai para pescar no Rio Guaporé. “Minha família toda mora em Pimenteiras do Oeste, às margens do Rio Guaporé, incluindo meu pai e minha mãe. Eles nunca falaram em sair de lá para morar em uma cidade maior nem eu penso nisso. Aqui a gente tem tudo que precisa, somos felizes”, conta.
Mesmo com semblantes cansados do trabalho, mas sem deixar de sorrir, os moradores dessas regiões, que parecem ter parado no tempo, buscam dias melhores. Mas sem deixar de cantar, dançar e se divertir. E assim, a vida dos ribeirinhos segue o curso do rio. Nascendo a cada estação. O verde. A vida. Fauna e flora, o homem em harmonia. E assim, a vida à margem do rio continua. Moradores da floresta amazônica, na fronteira entre Brasil e Bolívia. Pescarias, muitos causos e encontros com a vida selvagem.
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