quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ong desenvolve projeto de capoeira ensinando valores para vida

O projeto “Capoeira na escola”, ensina estudantes de escolas municipais e estaduais entre 6 e 16 anos a arte da capoeira

Atualmente a capoeira é considerada símbolo da cultura afro-brasileira, sendo praticada em diversos países. Em Vilhena a Ong Group Novamente (Nossa Ordem Viva Arte Metafísica em Ensaio Novilúnio Teatral e Environmental), realiza desde 2007, projeto de educação através da capoeira gratuitamente para crianças e adolescentes sob o comando do capoeirista Odair Belarmino, mais conhecido como Ki-suco.
Entre os projetos de capoeira, está o “Capoeira na escola”, onde estudantes de escolas municipais e estaduais, entre  6 e 16 anos, aprendem a arte da capoeira com duas aulas por semana. Cerca de 50 crianças participam do projeto. “A minha alegria é saber que estas crianças têm índice de aprovação de 100%”, destacou Ki-suco.
Também são desenvolvidos todos os anos em Vilhena, o “Capoeirando pela paz”, ocasião onde dezenas de pessoas se juntam e organizam rodas de capoeiras e palestras, enfatizando a luta contra a violência. Além disso, a ONG promove apresentações de capoeira nas praças da cidade, objetivando divulgar a arte marcial e proporcionar integração com a comunidade.
No ano passado, a ONG Novamente, através do capoeirista Ki-suco, teve o projeto “Ginga Vilhena” contemplado pelo Ministério da Cultura. Com isso, mais crianças e adolescentes vilhenenses poderão aprender a arte.
Ki-suco explica que a capoeira melhora a coordenação motora, trabalha a arte da dança, resgata a cultura do povo afro-brasileiro e dissemina o respeito, a amizade, o amor próprio e a disciplina. Valores esses que são levados para a vida cotidiana do aluno.
Na capoeira a música é algo fundamental, que distingue esta arte marcial das outras existentes. “As canções dõa o ritmo para a expressão dos movimentos, retratam o passado da capoeira e relembram os mestres que fizeram parte da história desta arte”, enfatiza Ki-suco.
O berimbau é o principal instrumento utlilizado na capoieira, que marca o movimento da ginga. Ele produz o som, que juntamente com as músicas e as palmas, conduzem os capoeiristas durante a arte marcial.
A música é uma das coisas que cativam Jeferson Menezes de Andrade, 11 anos, que faz capoeira há 5 meses. Ele disse que cantar e “ir na roda”, são as ações que mais gosta de fazer neste esporte.
O funcionário público, Robson Aparecido da Silva, 25 anos, é um dos primeiros alunos do professor Ki-Suco e revela que esta arte transformou seus valores. Ele explica que além de ser uma expressão cultural, a capoeira também ensina coisas importantes. “A capoeira é uma filosofia de vida, representa uma parte da história de nosso país e ensina valores prioritários para a vida, como o respeito e viver a liberdade com responsabilidade”, destaca.
Robson, que pratica capoeira há 12 anos, lembra que quando criança foi levado pelo pai em uma roda de capoeira. O aluno de Ki-suco diz que na ocasião, mesmo muito pequeno, teve o interesse despertado pelo esporte. “A capoeira é uma luta que não se bate, e sim se joga, se dança”, concluiu Robson.
Esta arte também envolve pessoas portadoras de necessidades especiais. É o caso de Osmar do Nascimento Basilia, 24 anos, que é surdo- mudo. O jovem, que é alfabetizado, participa da capoeira há 5 anos.
Osmar escreve seu nome e sua idade numa folha de papel e gesticula, informando que gosta das palmas e dos movimentos da capoeira. Ele é um dos alunos mais assíduos do grupo.
Historia da Ong Group
A ONG Group atua em Vilhena há 25 anos, com o objetivo de conscientizar, aplicar, capacitar, fomentar e divulgar as atividades ambientais, de artes e de diversidade cultural.
A Novamente foi fundada em 02 de março de 1986, idealizada pelo ator e diretor de teatro, Bráz Divino Ferreira da Silva. No início, a ONG era voltada somente ao teatro, porém, depois do primeiro ano, a instituição expandiu suas atividades para outras áreas.
Bráz explica que a ONG desenvolve diversas ações que mobilizam a sociedade para a preservação do meio ambiente, arte e cultura, por meio de projetos, oficinas, peças teatrais e campanhas educativas.
O atual presidente da instituição, Rogério Golfetto, ressalta que as atividades são sempre voltadas para a comunidade, principalmente para as pessoas mais carentes, que geralmente não tem acesso à arte e a cultura.
BOX: Capoeira: luta pela libertação e sobrevivência 
No século XVI, os colonizadores portugueses trouxeram milhões de negros da África para o Brasil, a fim de escravizá-los no cultivo de cana-de-açúcar. Com isso, os escravos viviam em condições desumanas, sendo forçados a trabalhar incansavelmente, sob a pena de sofrerem duros castigos.
Contudo, os negros procuravam alguma forma de se rebelarem e uma delas foi o quilombo (comunidades de difícil acesso, compostas por negros fugitivos). De acordo com pesquisadores, o maior dos quilombos, chamado Palmares, pode ter sido o cenário das primeiras manifestações da capoeira, visto os mais de cem anos de resistência aos ataques de tropas coloniais.
Os negros, na luta pela libertação e sobrevivência, começaram a desenvolver uma arte marcial de defesa. Porém, para não levantarem suspeitas, adaptaram a luta, acrescentando músicas africanas, para que parecesse uma dança na presença dos senhores do engenho.
Assim, cercada de segredos, a capoeira se desenvolveu, sendo ensinada entre os negros como forma de resistência cultural e física dos escravos brasileiros. Segundo alguns estudiosos, o nome capoeira é originário do tupi-guarani e refere-se às áreas de mata rasteira, ou com pequenos arbustos, que seria local de esconderijo para os negros, mas também de lutas, quando encontrados pelos capitães - do - mato.
A capoeira ficou proibida no Brasil, durante décadas, pois era vista como uma prática violenta. Com isso, as pessoas que desobedecessem à proibição poderiam ser presas e até torturadas.
Felizmente, em 1930, mestre Bimba, considerado um importante capoeirista de Salvador, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas, que transformou a capoeira em esporte nacional brasileiro.
Atualmente a capoeira é considerada símbolo da cultura afro-brasileira, sendo praticada em diversos países. Em 2008 a arte foi registrada como patrimônio cultural brasileiro, pelo IPHAN (Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).


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