quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Revista Cultural Aventuras na Amazônia está disponível para download




A Revista Cultural Aventuras na Amazônia está disponível para download, no link abaixo.

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Projeto Tablado Cultural inicia-se em Vilhena

O Jovem e acadêmico do Curso de Serviço Social, Rafael Reis, 24 anos, está desenvolvendo o Projeto ”Tablado Cultural – Integração Arte, Paz e Cidadania! (Promoção da Cultura da Paz na Amazônia Legal)”, financiado pela FUNARTE (Fundação Nacional de Arte).
O Objetivo do Projeto é desenvolver atividades artísticas que integrem jovens da cidade de Vilhena/RO em torno do desenvolvimento de ações, tais como: oficinas e apresentações musicais de Hip Hop e Rap, performances de palco – Dança e pequenas encenações e artes visuais e através de mini-oficinas de técnicas de graffitis, arte-mural e outras manifestações artísticas que promovam a reflexão sobre fenômenos sociais e de promoção da cidadania de jovens – com ênfase em jovens em situações de vulnerabilidade social e econômica.
Este projeto tem como eixo norteador a disseminação e o desenvolvimento de ações que contribuam com a Cultura da Paz, nesta região da Amazônia Legal Brasileira.
O Projeto conta com o apoio do Ponto de Cultura Cone Sul Plural. Segundo o idealizador Rafael Reis as principais atividades acontecerão a partir do dia 15/10.



PROGRAMAÇÃO:

Dias 15 e 22/10 (Sábados)

Oficina Grafite, Arte Mural e Air Brush – das 8 às 16 horas;
Oficineiros: Sayonara Lobato e Alessandro (Bife);

Dias 15 e 22/10 (Sábados)

Oficina Aberta: Hip Hop, Rap, Mc, DJ, B-Boy& Cia – Das 16 às 20 horas;
Oficineiros: Sérgio, Jonatas, Fabiano & Convidados;

Dia 16/10 (Domingo):
Oficina Aberta: Hip Hop, Rap, Mc, DJ, B-Boy& Cia

Das 16 às 20 horas
Oficineiros: Sérgio, Jonatas, Fabiano & Convidados;

Dia 23/10 (Domingo)
Exposição de Artes Plásticas, Artesanato;
Palco Livre para Oficineiros e Alunos da Oficina Aberta: Hip Hop, Rap, Mc, DJ, B-Boy& Cia;

Toda a programação será permeada por ações de estimulo a valorização da Cultura da Paz.
Local: Praça Nossa Senhora Aparecida – Centro


Assessoria

Jornalista realiza lançamento da Revista “Aventuras na Amazônia”

O lançamento da revista aconteceu na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato
A jornalista, Andréia Machado, realizou na noite do dia 30 de setembro o lançamento da Revista Cultural Aventuras na Amazônia, que foi patrocinada pelo patrocinada pelo Ministério da Cultura através Fundação Nacional de Artes – Funarte pelo programa Microprojetos Mais Cultura – Amazônia Legal 2010. O lançamento aconteceu na Biblioteca Municipal de Vilhena Monteiro Lobato e contou a presença de jovens músicos, artistas d e teatro membros do Grupo de Teatro Wankabuki, além da artista plástica Sayona Lobato, e também da impressa vilhenense.
Segundo Andréia a Revista Cultural: Aventuras na Amazônia tem como objetivo resgatar historia e lendas dos ribeirinhos, quilombolas, sertanejos, e pioneiros que através de seus esforços fizeram a historia da Região Amazônica, e que aos poucos tem suas historias de vidas esquecidas no tempo. A revista possui edição única e será distribuída nas bibliotecas das escolas do município e em espaços culturais da região. O lançamento contou com o apoio do Ponto de Cultura Cone Sul Plural e da ONG Beija-Flor, por via do professor Cledemar Jeferson.
A revista é uma inovação no setor, pois é a primeira publicação de Rondônia com todo o seu conteúdo voltado para as manifestações culturais de Rondônia. De acordo com Andréia O projeto da revista  recebeu a valorosa contribuição dos jornalistas:Dennis Weber, Flavio Godói, Eliete Marques Lima, Franciele do Vale, Washington Kuipers de Moraes e também do diagramador Enéas Santos, que deu a identidade visual da revista. A jornalista conta que não para de trabalhar em projetos voltados para a valorização da cultura e já está elaborando novos projetos, como a produção de um festival de musica em Vilhena e também de documentários.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Revista “Aventuras na Amazônia” faz pré-lançamento para professores de Vilhena


          A jornalista, Andréia Machado, realizou na tarde desta quinta-feira, 15, o pré-lançamento da revista cultural “Aventuras na Amazônia”, patrocinada pelo Ministério da Cultural, através do edital micro projetos da Amazônia Legal, para cerca de 40 professores das redes estadual e municipal de Geografia, História e Artes de Vilhena no auditório do Tribunal de Contas.
      Segundo as palavras da jornalista, o objetivo da revista é divulgas as manifestações culturais de Rondônia. A revista possui edição única e será distribuída nas bibliotecas das escolas do município e em espaços culturais da região. O lançamento oficial da revista, ainda sem data definida, deve contar com a presença dos idealizadores do projeto, professores e pessoas ligadas a cultura vilhenenses.
        A ONG Beija-Flor, por via do prefessor Cledemar Jeferson, também falou sobre o projeto Hatisu, que visa catalogar histórias e documentos fotográficos, visuais e escritos dos pioneiros do Cone Sul de Rondônia.

Jovem realiza oficina de artesanato em Vilhena e Pimenteiras do Oeste



     O jovem artesão Marcio Guilhermon realizou uma oficina de artesanato na Escola Maria Arlete Toledo para crianças e adolescentes. A oficina faz parte do projeto Arte na Palha: Inclusão social sustentável. O projeto tem como objetivo realizar oficinas de artesanato e biojóias feitas com sementes e com a palha do buriti, para pequenos artesões em municípios do Cone Sul de Rondônia. As oficinas estão sendo realizadas para aumentar a renda dessas comunidades carentes que residem nesses municípios e promover a inclusão e o desenvolvimento socialmente mais justo ambientalmente mais sustentável, informou Marcio.


  Pimenteiras do Oeste

         O jovem artesão Marcio Guilhermon realizou durante o 22º Festival de Praia uma oficina de artesanato que faz parte do projeto Arte na Palha: Inclusão social sustentável. O projeto tem como objetivo realizar oficinas de artesanato e biojóias feitas com sementes e com a palha do buriti, para pequenos artesões em municípios do Cone Sul de Rondônia. As oficinas estão sendo realizadas para aumentar a renda dessas comunidades carentes que residem nesses municípios e promover a inclusão e o desenvolvimento socialmente mais justo e ambientalmente mais sustentável, informou Marcio.
          Marcio explica que as oficinas que ele está realizando são patrocinadas pelo edital 2010 Microprojetos Mais Cultura – Amazônia Legal. Marcio conta que durante as oficinas foi ensinando os artesões retirar a fibra da palha de buriti bem como a trançar ela para a produção pulseiras também beneficiando ela para que a mesma valorize comercialmente 100%. “O artesanato é o caminho da inclusão social com qualidade e funcionalidade, uma profissão a ser cumprida com dignidade”, ressalta Marcio.
       Segundo Marcio, uma biojóia é mais do que um adereço exótico. Cada colar, brinco ou pulseira feito com sementes da Amazônia guarda dentro de si um pouco da maior floresta tropical do mundo. “Os grupos solidários de artesãos que adotam este tipo de trabalho aprendem que para manter suas famílias é preciso preservar a natureza. Um desenvolvimento socialmente mais justo e ambientalmente mais sustentável está desabrochando é preciso fomentar esse tipo desenvolvimento sustentável, por isso a importância de estar realizando essas oficinas para estes pequenos artesões que muitas vezes ficam isolados do mundo sem ter ao menos meios de comunicações disponíveis, não tendo fontes de renda tenham na produção de artesanato uma fonte de renda sustentável”, explica o artesão.
É o caso do catador de latinha Antonio dos Santos que viu na oficina de artesanato uma nova oportunidade de renda, utilizando à matéria prima gratuita que vem da natureza, como a palha do buriti para fazer pulseiras e colares. Antonio conta que a oficina de artesanato vai proporcionar uma nova fonte de renda para sustentar sua família. Além disso, o filho de Antonio o adolescente Gabriel Fabio dos Santos participou da oficina de artesanato e contou que aprendeu rapidamente a retirar a palha de buriti e também a trançar a palha confeccionando lindos colares.
 Palha de Buriti
         A palmeira do Buriti chega a alcançar até 50 metros de altura. Lá em cima é recolhida a matéria-prima para a confecção dos fios utilizados nos brincos, pulseiras e colares. Este produto utiliza matérias-primas provenientes do Estado de Rondônia e da Amazônia Legal. 







Pintora retrata belezas amazônicas

A Amazônia é repleta de contos e lendas que aguçam a curiosidade das pessoas, além de belezas que seduzem os olhos dos mais atentos. A pintora e artista plástica Grácia Benelli retrata todas essa belezas em suas telas com temas focados no cotidiano amazônico, com animais, plantas, o dia a dia do índio e paisagens amazônicas. Com cores fortes e formas fiéis, a sensibilidade e a delicadeza são marcas das telas da artista que se encantou com a flora brasileira e se dedica a registrar as belezas de plantas nativas e animais, especialmente da Amazônia.
Amante das flores, e dos animais as telas pintadas por Grácia representam as maravilhas da natureza. “Gosto de flores, pois as cores me fascinam, e também gosto de pintar a natureza da nossa região”, conta empolgada. Entre as pinturas de Grácia, estão bromélias, orquídeas, papagaios, araras e outras espécies vegetais e animais.  “Além de ser uma terapia, pintar também é relaxante”, frisou.
A artista plástica Grácia Benelli, é formada em Letras. Ela conta que, quando era maisjovem, além de tirar boas notas na disciplina de educação artística, ela fazia a tarefa dos irmãos também. Grácia informa que fez vários cursos de pintura chegando a dar aula de pintura, mas atualmente só pinta obras para expor no Circuito de Arte Brasileira. “Desde quando me entendo por gente que gosto de pintar, de expressar minha alma artística. Sempre pintei, desenhei só que eu não dependia da pintura para viver e então fazia mais por hobby. Assim foi parte da minha vida, depois me aposentei e voltei a pintar com mais frequência, voltei a fazer exposições, inclusive passei a participar de exposição fora do Brasil”, explica a pintora.
A artista conta que é filiada ao Colege Art desde 2004. “Para mim é importante participar do Colege Art, pois graças a essa entidade eu posso participar do Circuito Internacional de Arte Brasileira, um importante movimento cultural de nosso país que tem levado os trabalhos de vários artistas brasileiros à apreciação do público e da crítica de inúmeras outras nações”, explica a artista.
     Segundo Grácia, é importante frisar que cada mostra internacional de arte conta com o apoio institucional do setor cultural da Embaixada do Brasil nos países que sediam o evento e também do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Para a artista plástica Grácia, representar o município de Vilhena e o estado de Rondônia, com a pintura de suas telas é um prazer, além disso, a participação do Circuito Internacional de Arte representa uma grande oportunidade para divulgar seu trabalho e valorizar a diversidade artística da Região Norte, democratizando assim o acesso de todas as pessoas à arte amazônica criando um intercambio cultural. A artista já expôs suas telas em 14 países, entre eles China, Estados Unidos e Espanha. 


Documentário “O Que Há Por Trás?” promove luta contra homofobia

O curta-metragem mostra a intimidade de três travestis: Paola, Leo e Lorena que se prostituem em Vilhena




Uma muralha tão alta que poucos conseguem superar os obstáculos e olhar além de suas paredes. Esta muralha está por toda parte da vida em sociedade. Trata-se da muralha do preconceito, uma das mais resistentes já criadas pelo ser humano. Mas afinal, o que há por trás das paredes da discriminação?  Se há algo oculto, só existem duas formas de aceitar como ele foi parar onde está: ou alguém o escondeu, ou o que quer que esteja por trás das muralhas do preconceito se ocultou por espontânea vontade. Para compreender quais razões, como vivem e o que fazem os sujeitos que habitam o outro lado do mundo separado pela muralha, o documentário “O Que Há Por Trás?” procurou dar voz a um grupo constantemente discriminado: as travestis.
O curta-metragem de dezenove minutos mostra o cotidiano e a intimidade de três travestis: Paola, Leo e Lorena. Elas se prostituem em Vilhena, na clássica Avenida Presidente Nasser. Dentre revelações polêmicas sobre como acontece um programa, o filme aborda, por meio de depoimentos e histórias de vida dos personagens, o descobrir-se homossexual ainda na infância, o modo de vida itinerante nos pólos de prostituição do Estado e os sonhos das travestis ainda vítimas do preconceito da sociedade.
O curta-metragem não trás respostas, apenas indaga e promove uma reflexão. O duplo-sentido do título chama atenção e serve para revelar o lado que as pessoas não enxergam por baixo da maquiagem e da condição de vida das travestis.
O documentário “O Que Há Por Trás?”, foi produzido pelos acadêmicos de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia,  Andréia Machado, Flávio Godoi, Dennis Weber e Washington Kuipers.  Segundo Flávio, as palavras “travesti” e “prostituição” são tão marcantes e rejeitados pela sociedade que, durante a realização do documentário, a equipe responsável pela sua produção provou um pouco do preconceito através de comentários de discriminação publicados na internet.
Segundo Andréia, a intenção, ao produzir o documentário, foi de lutar contra a homofobia e preconceito direcionados às travestis. “Pretendemos, assim, durante as exibições do documentário promover debates sobre a violência cometida contra o grupo minoritário das travestis,  além de desenvolver a cidadania desse grupo que, dentre os excluídos GLBTTT, são os mais marginalizados e estão fora de qualquer possibilidade de inclusão social, seja na escola, na saúde, na família e no mercado de trabalho. Com acesso gratuito a essa expressão cultural, busca-se minimizar preconceitos através da arte e do conhecimento.”, explica Andréia. O documentário vilhenense foi postado na internet e mais de 27 mil pessoas já assistiram a produção.
De acordo com Andréia, o documentário “O que há por trás?” privilegia a cultura da diversidade, abordando as múltiplas interpretações sobre gênero, sexualidade, orientações sexuais, identidades que fogem aos esquemas binários (masculino e feminino). O documentário já foi exibido para acadêmicos de vários cursos da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e da Faculdade da Amazônia – FAMA, além de pessoas ligadas a vários setores da sociedade que participaram do lançamento da obra audiovisual.  “O que há por trás?” também já foi exibido no festival “Só Curtas”, de Ji-Paraná (RO) e na IV Mostra do Filme Etnográfico, em Manaus (AM).
“O Que Há Por Trás?” recebeu o Prêmio do Júri do Festival Só Curtas realizado em Ji-Paraná, na categoria documentário. O prêmio foi conquistado pela abordagem do tema “preconceito” de forma leve e criativa, foi o que destacou o júri formado por uma comissão de Porto Velho. A produção recebeu ainda o Prêmio Casa Rondon de Comunicação, em Vilhena (RO). O filme foi exibido em Goiânia (GO), além de outros festivais nacionais, provocando assim uma reflexão sobre a homofobia.



Corpo estranho

Viver entre a aldeia e a cidade é o grande desafio de Dona Ana. Em sua tribo urbana, uma casa situada no bairro São José, no município de Vilhena (RO), ela despeja memórias de seu passado, enquanto tece colares nambiquaras, arte que aprendeu com sua mãe e que hoje é fonte de sustento para sua família. Na aldeia ela é discriminada entre os seus por manter contato com gente branca, mas ela não se abala e segue de colar em colar, de lembrança em lembrança


E
la está sentada em uma pilha de seis tijolos, com as pernas grudadas uma na outra, com a saia no meio, em sinal de recato. Nos pés, chinelos de tiras, desses comumente conhecidos como “havaianas”. Cobrindo o busto, uma camisa estampada com flores vermelhas. Os cabelos negros e oleosos estão presos na parte traseira de sua cabeça por um pente. A expressão da senhora é de concentração, com algumas rugas se formando nos cantos de seus olhos amendoados, que revelam sua ascendência indígena. Ela trabalha atenta em mais de seus colares. Os dedos, um pouco tortos, amarram, esticam e puxam uma linha de anzol, repleta de pequenas contas, que não são de vidro, plástico ou outro produto sintético, são de coquinhos.
É setembro e o inverno já se despede da região Norte do Brasil. O local de encontro é Vilhena, cidade ao sul do Estado de Rondônia, bairro São José, um dos mais antigos do município. As mangas já começam a amarelar nos pés, o que atrai os olhares cobiçosos de pessoas que passam em frente à casa de Dona Ana. Ela continua concentrada no seu afazer diário. Paciência é o que não falta a ela. De conta em conta ela preenche o fio do anzol, que vai ganhando forma, vida. Com voz mansa e um leve sotaque andino, ela nos convida a entrar em seus domínios. No quintal, algumas galinhas ciscam o terreiro em busca de alguma novidade anelídea, sob o olhar atento de um galo robusto e mal encarado. Uma pequena casa de madeira se ergue ao fundo, na qual Dona Ana está escorada. Um grupo composto por seis entrevistadores, integrantes do projeto Hatisu, que tem por objetivo resgatar a história oral de personagens pouco conhecidos do público, chega ao local, dois em uma moto e os outros quatro em um velho carro vermelho. Estão ali para conhecer um pouco sobre o processo de confecção de colares nhambiquaras. Com voz mansa, e um leve sotaque andino, ela convida todos para que entrem em seus domínios. Todos se acomodam de alguma forma, sobre tijolos e começa a sessão de perguntas.
 _Como que a senhora corta a casca do coquinho para ficar bem pequenininho? -  pergunta um dos interlocutores, interessado no processo de confecção da peça artesanal.
_A gente corta com faca, coloca um ferrinho no meio, e faz um buraquinho, depois vai retocando. Esse daí é feito cortado com faca – mostra várias voltas de colares de cor escura  na mão esquerda - Cada voltinha dessa eu vendo a dez reais! – já informa o valor de seus trabalhos.
_E dá muito trabalho? – indaga o outro entrevistador.
_Dá muito trabalho – a senhora balança a cabeça em sinal de concordância.
_Quantos dias a senhora demora para confeccionar uma volta dessa ? – o entrevistador aponta para as várias voltas do colar que Dona Ana segura.
_Viche, muita demora! Até que a gente vai dividir as partinhas, depois fura com o arame, depois arredonda com a faca, aí depois coloca na linha, leva bastante tempo. Depois de pronto, ainda lixa ele todinho – descreve metodicamente alisando a peça já acabada, pronta para a venda - Quando não tem muito serviço, em uma semana eu faço vinte, trinta voltas de colar – diz Ana esticando outra linha de anzol e emparelhando as pequenas argolas ainda opacas.
_ A senhora não faz anel não?
_Eu faço. Só que eu não tenho os preparos, eu não tenho os coquinhos para fazer. No mês de janeiro, fevereiro, tem de outro coquinho, de outra fruta que cai, uma fruta marronzinha.
  D
ona Ana, tinha um nome indígena, mas hoje prefere ser chamado pelo “nome de branco”.  “A gente acostuma, por que sempre trocam o nome de índio por nome de branco, então a gente acostuma com o novo nome. E aqui na rua o povo não chama com o nome de índio, então quando me chamam de Ana eu respondo”. Ela é Nhambiquara, pertencente à tribo Mamaindê. Viveu grande parte de sua vida na cidade de Vilhena, acompanhando o processo de ocupação dos territórios indígenas pelos migrantes de outros estados. É testemunha viva do deslocamento do seu povo, o que ocasionou a destruição de sua família indígena. Com a mãe aprendeu o ofício de confeccionar colares, pulseiras e anéis de materiais encontrados nas florestas, como coquinhos e ossos de animais. “Desde criança faço isso. Minha mãe morreu e eu fiquei sozinha. Eu não fui criada na aldeia, eu fui criada por aqui [em Vilhena, zona urbana]”. Do pai, Ana nunca teve notícias. Sua mãe não tocava no assunto. “Eu perguntava sobre o meu pai e ela: “Que pai o quê, você não tem pai. Seu pai sou eu, sua mãe sou eu”.
O
 vento balança as folhas da mangueira. De repente um fruto se desprende do galho e cai no chão de terra arenosa. Ao lado direito da casa de três cômodos um pequeno cercado feito de tijolos tenta conter mais de vinte pintinhos em vão. Gemidos de um cachorrinho vindos do fundo do quintal podem ser ouvidos.Também é possível visualizar um fogão de barro e algumas panelas no fogareiro. Próximo ao pé de mangueira um sofá estrebuchado serve de abrigo temporário para uma galinha. Um dos entrevistadores do Projeto Hatisu, pede confirmação do nome do coco utilizado na confecção dos colares.
_Esse coquinho é tucum?
_É o tucunzinho, daquele rasteirinho – responde a senhora com prontidão.
_Ah, ele tem uma massinha em volta. Serve pra alguma coisa?- volta a perguntar o interlocutor.
_Serve nada. Ele é azedo, azedo, azedo - diz diminuindo o tom de voz - Agora tem tucum mais bom, que é mais gorduroso, que é bom de comer.
_Nós despedreja [quebra o coquinho em pequenas partes] todinho - mostra o coquinho utilizado para a confecção dos colares nhambiquaras.
_A senhora me arruma um? – pede o interlocutor de olhos claros e expressão risonha.
_Daí a gente descasca ele todinho pra fazer desse aqui ó – Ana mostra o colar pronto que está em um de seus braços.
_ Ah, esse é o tucum também – interpela o visitante.
_É, esse é o tucum. Daí esse aí tem que furar no arame pra fazer desse aqui  - mostra de novo os colares que estão em um dos seus braços.
Um toque polifônico de celular ecoa no ar. Várias vezes. Uma, duas, três...
_É o telefone da senhora que está tocando? – pergunta um dos entrevistadores.
_Ah deve ser!
Dona Ana levanta rapidamente, a saia que estava entre as suas pernas retomam as curvas da pequena senhora que se encaminha até o interior da casa, em um passo apressado, para atender ao telefone celular. Com as várias voltas dos colares em sua mão ela segura o celular de cor vermelha e conversa com um de seus parentes, como contaria depois para os visitantes. No retorno da conversa ela exprime um desejo:  “Eu quero passar minhas férias tudo em Cabixi, com minha família”. Os entrevistadores a questionam se os seus familiares moram no município ou na aldeia. Ela diz que eles moram na aldeia e acaba confidenciando a sua preferência pelo local. “Eu gosto mais de lá. Por que lá é mais gostoso, tem o rio que a gente banha à vontade. E a gente vai pra roça. Eu tenho roça lá, tá tudo plantadinho lá. Daí minha filha falou:  ‘Se eu tiver abacaxi eu mando pra senhora’, por que eu tenho muito abacaxi lá, banana. Quando eu vou lá eu trago uma carriolada de banana, abacaxi”.
_E a renda da senhora é só com artesanato ou a senhora vende outras coisas também?
_Quando eu não tenho outras coisas, quando eu não tenho artesanato, daí a gente vende abacaxi, banana, farinha da roça.
_Mas a senhora já se aposentou?
_Já me aposentei sim. Eu não posso trabalhar muito porque sofro pressão alta. Não posso passar raiva.
_Quem cuida da roça da senhora?
_Meus meninos. Minhas meninas, meus filhos. Eu tenho filho homem que mora na aldeia. Eu tenho outro aqui em Vilhena, o Guilherme, mas só que é casado com branca e a branca não gosta de ir na aldeia. Foi uma vez e saiu de lá desconjurada e eu nunca mais vi ela na aldeia. Viu como é bom casar com índio? Sabe que índio mora na aldeia né? – diz isso intercalando com uma risadinha maliciosa.
   A
 convivência com a mãe indígena foi interrompida logo nos primeiros anos de vida de Ana. “Minha mãe teve neném, e ela tinha costume de comer as coisas que não deve, daí ela comeu e deu hemorragia nela. E eu fiquei com meu irmãozinho, por que naquela época não tinha ninguém pra adotar”, diz com expressão de quem faz força para resgatar um lembrança tão longínqua. “Aí como eu fiquei sem pai, nem mãe, na mão dos outros, eu fui viver com um e com outro e a senhora dona dessa casa que eu moro, era boliviana, ela me pegou com sete anos, já era grandinha, e passei a conviver com ela. Quando ela me deixou eu estava com 49 anos”, lágrimas começam a brotar nos cantos dos olhos de Ana, que lembra que a mãe adotiva se chamava Maria.
“Ela foi uma mãe pra mim, por que a única pessoa que deu ajuda foi ela, foi como se Deus me desse outra mãe. Eu gostava dela, amava ela, e ela falava: ‘Quando eu morrer não quero que você se afaste desse lugar aqui. Aqui você vai viver para o resto da sua vida. Aqui você vai lembrar de mim’. E eu estou aqui até hoje”, diz com a voz embargada, quase impossível identificar suas palavras.
Os interlocutores questionam se a senhora que adotou Ana era casada, ao que ela responde: “Ela era ajuntada com um paraguaio. E o paraguaio era ruim pra ela, coitada, nem sei como eles conviviam. Mas eu tinha ele como um pai pra mim. Ele era tudo pra mim, coitado. E ele morreu também. Ele morreu primeiro e ela morreu depois. Nossa, eu choro no dia do aniversário da minha mãe de criação, dia 30 de agosto. Eu sinto falta dela, por que a gente conviveu muitos anos, deixou eu formada, a gente não esquece. Eu amava muito ela”, passa a mão no rosto para enxugar as lágrimas.
Um dos mais conhecidos pontos turísticos de Vilhena, e por conseguinte de Rondônia, e que diga-se de passagem está em péssimo estado de conservação, foi um dos locais em que Ana morou em sua infância. “Eu morava ali no Museu [se referindo ao antigo museu Casa de Rondon]. Ali no museu era uma aldeia indígena. Ali na cabeceira do rio Pires de Sá, não, não era Pires de Sá. Tinha o nome de Estaca Zero. Ali na cabeça de buritizal [Estaca Zero], ali era outra aldeia também. Tinha uma oca bem grande. Lá era uma aldeia bem grande”, relembra situando os entrevistadores geograficamente no espaço territorial do município.
_Falaram que ali tinha cemitério indígena. É verdade? – pergunta um dos entrevistadores.
_Tem. Ali tem uma tia minha, outra que morreu no parto. Ela estava com febre, pegou sarampo. Ela não tinha ido ganhar neném, daí ela foi pra casa queimando de febre, e morreu com a criança dentro da barriga. Agora ali na aldeia velha está minha mãe, minha bisavó, minhas três tias. Era muita gente ali.
Para aproveitar a ocasião em que histórias do passado estam vindo à tona, inclusive da história de Vilhena, os entrevistadores questionam Ana sobre as guerras entre indígenas na região.
_A senhora lembra de algum conflito entre os nhambiquaras e os cinta-largas?
_Eu lembro.
_Como que era?
_Eu me lembro que meus parentes eram muitos. Aqui nessa Vilhena tinha mais de cinco mil índios, inclusive negrotê, mamaindê e sabanê. Aí os cinta-larga veio guerrear, matar. Os cinta-larga mataram muito índio, vinham matar, carregar menina moça da aldeia pra ficar com eles.
_E a senhora chegou a presenciar algum ataque deles?
_Já. Eu tenho sinal flechada bem aqui - aperta o lado da perna esquerda - Eu era pequenininha e minha mãe correu comigo, daí pegou flecha na minha mãe, varou ela e pegou bem aqui em mim - diz apontando no corpo, onde levou a flechada -  Me dói até hoje. Tem vez que me dói tanto.
_E eles comiam as pessoas? Como?
_Comiam igual cachorro, arrancavam os pedaços pra comer. Só deixavam os pés, as mãos e a cabeça. Agora nhambiquara não, só mata pra magoar mesmo.
O cenário onde as pessoas viviam era um pouco diferente do que é hoje. Os igarapés e rios que cortam o município de Vilhena eram límpidos, como conta Ana. “Eu bebia água do rio, nós pescava, pegava cada trairão desse tamanho”, ela estica os braços quase um metro na horizontal para indicar o tamanho do peixe .  “Nós vinha lá do Museu até aqui no rio pra pescar. Por causa do rio que era limpinho, limpinho que era”, diz ela em tom mais agudo, com os dentes cerrados, traçando uma reta imaginária de um canto ao outro, indicando a rota  do rio. “Era limpo mesmo”, conclui.
   V
oltando para os dias atuais, entre uma memória e outra resgatada, Dona Ana vai mostrando aos visitantes como confecciona os colares. Além de transformar o coquinho de tucum em vários pedaços minúsculos, eles são lapidados com faca, até ganharem a forma aredondada. Depois são furados com um arame por onde será passada uma linha de anzol resistente que deixará as pequenas contas vegetais alinhadas, mas não pense que a peça está acabada e pronta para o uso. Ela ainda é lixada e posteriormente receberá o polimento feito de uma forma inusitada.
_Essa madeirinha é pra lixar? – pergunta um dos entrevistadores.
_Não.  É pra alisar. Fica brilhando.
Ana pega os dois pequenos pedaços de madeira, coloca uma ponta do colar entre os dedos do pé e a outra ponta segura com uma das mãos. Com a outra mão segura os pedaços de madeira e começa a passar sobre o colar para dar brilho à peça.
_E essa madeira que a senhora usa pra lixar é uma madeira normal, diferente, ou qualquer tipo de madeira serve?
_Garapeira. A gente usa essa. Isso é pra alisar, pra ficar brilhando - diz mostrando para um de seus interlocutores como se quisesse provar que aquela atividade que desempenhara recentemente fizera dar brilho à peça indígena.
A  artesã não costuma usar os adornos que confecciona. “Só uso pulseira e anel. Já aquele para o pescoço só uso quando eu vou em festa. Depois arranco tudo, por que eu não acostumo”, afirma passando discretamente a mão pelo pescoço.
Os colares nhambiaquaras, segundo boatos que circulam entre os moradores da região, só poderiam ser usados por caciques, ou seja, por quem detivesse poder na aldeia. Mas essa versão é contestada por Dona Ana.
_O que esses colares significavam pro pessoal da tribo?
- São as nossas jóias
_ Mas é algum tipo de proteção contra alguma coisa?
_Não. É só enfeite mesmo.
-É verdade que só quem usa isso em volta do pescoço é cacique?
_Não, usa qualquer um. Branco é que inventa que só o cacique que usa, todo mundo usa - diz em voz baixa, rindo com o canto da boca da suposição exposta pelos entrevistadores.
                A educação religiosa ficou à cargo da mulher que adotou Ana, depois da morte de sua mãe. A jovem índia, hoje com sessenta e três anos de idade, foi criada no catolicismo. É devota de Nossa Senhora Aparecida, e frase ou outra sua  é ouvida uma invocação ou agradecimento a Deus. A vida na cidade trouxe alguns desafios que Ana tenta superar. Muitos pensam que ela sofre preconceito em sua maioria de homens brancos, mas a indígena revela que sofre mais discriminação entre os seus, que não valorizam a sua moradia urbana da qual muitas vezes fazem uso. “Tem muitos parentes que falam: ‘Ah por que fulano mora na cidade?’, mas não adianta falar por que os meus parentes que vem de fora tem lugar aqui, tem um local, pára aqui, e eu tenho que agradecer, por que eu tenho um lugar aqui na cidade pra segurar eles, pra acolher eles, mas não, eles não agradecem”, diz com um leve nota de insatisfação na voz completando: “ Sou discriminada pelos meus parentes, e eu falo: ‘vocês podem me discriminar, mas o pai lá do Céu não vai me discriminar, por que é ele quem me dá força pra mim viver até hoje’”.
                Chega a hora da equipe de entrevistadores ir embora. Antes disso, é preciso acertar o valor das peças que serão compradas de Dona Ana.
_Então vamos ver quanto que dá aqui? – pergunta o senhor de olhos azuis - Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove voltas. Nove vezes dez. Noventa [reais].
_Quanto que a senhora vai fazer esse? -  mostra um colar não finalizado, opaco, sem o brilho daquele que está no braço da índia.
_Faço dez a volta.
_A senhora vai cobrar o preço de um? – o entrevistador estica o colar com os dedos.
_É, o preço de um- diz Ana enfática.
_Então aqui deu cem – conclui o interlocutor, que mostra alguns coquinhos para a índigena com a intenção de perguntar o quanto ela cobra.
_Cinco [reais].
_Cento e cinco, certo? – pergunta o entrevistador em tom de riso.
_E vocês vão pagar as mangas? _ pergunta  em tom de brincadeira o homem de olhos claros para os outros entrevistadores que tentam arrancar mangas. Branco e índia riem da piada.
_Cinquenta, setenta, noventa, cem, cento e cinco – o interlocutor coloca o dinheiro nas mãos de Ana parecendo o apresentador Silvio Santos em uma de suas muitas brincadeiras com o auditório.
O homem de olhos azuis levanta com os braços cheios de colares, guarda a carteira no bolso. Os outros entrevistadores estão se deliciando com as mangas arrancadas. A indígena se despede dos visitantes. Da janela direita da casa irrompe um garoto com expressão facial curiosa e um pouco sonolenta. É um dos netos de Ana. Ele se envergonha e volta para o interior da casa. Um dos entrevistadores vai de mansinho até chegar bem próximo da janela na expectativa de encontrar o curumim e poder fotografá-lo. De supetão o menino reaparece, a câmera dispara. Mai um registro. Todos se retiram da pequena tribo urbana, um corpo estranho em uma das cidades mais urbanas de Rondônia: Vilhena.

Arraial Flor de Maracujá: mistura de lendas, danças e sabores da região Norte

O evento reúne quadrilhas e bois-bumbás


Uma música agitada marca os passos fortes dos dançarinos de quadrilha. Com roupas coloridas e sorriso nos rostos eles mostram a diversidade cultural dos rondonienses. Assim começa mais uma edição da festa folclórica que é considerada uma das maiores e mais tradicionais festas da região da norte: o Arraial Flor do Maracujá. O evento reúne várias quadrilhas e bois-bumbás, que se apresentam e atraem um grande número de pessoas ligadas à cultura folclórica regional. Mapinguaris que assustam o povo, botos dançam e emprenham donzelas. cobras-grandes, curupiras, Matintapereira, cabeças voadoras de pessoas transformadas em duendes que vagam à noite. O folclore rondoniense é, acima de tudo, um espetáculo de lendas. Todas com influências indígenas e amazonenses são mostradas no Arraial Flor de Maracujá em Porto Velho. A festa mescla elementos culturais portugueses, africanos e indígenas. Durante o período da festa Porto Velho vira um verdadeiro arraial, com bandeirinhas coloridas nas barracas das praças e ruas, onde é servida grande variedade de pratos típicos. O capricho dos figurinos e a alegria dos dançarinos, além de cenários e adereços, fazem parte de grandes espetáculos apresentados na arena do arraial, com onde dançam grupos mirins e adultos.
Em 2011 o Arraial Flor do Maracujá completou 30 anos e para comemorar a data dessa festa, que é considerada o segundo maior arraial do Brasil, o evento teve a duração de 11 dias. O Flor do Maracujá consegue mesclar as tradicionais apresentações de quadrilhas e bois bumbás, além das barracas que oferecem diversos pratos típicos, como pato no tucupi, o saboroso e revigorante tacacá, além de outras iguarias da culinária rondoniense. No espaço da festa foram montadas 24 barracas, onde foram comercializadas comidas e bebidas.
 A exuberância das roupas dos dançarinos de quadrilha, com muito brilho e apliques de pedras, fitas e babados mostram a criatividade dos grupos. Além disso, o ritmo das músicas e a alegria dos brincantes impressionam os visitantes do arraial. Já o boi-bumbá magnetiza a todos ao contar as lendas amazônicas com perfeição, como a história da lenda da Cobra Dam, uma serpente de duas cabeças que percorre os rios da Amazônia e surge nos dias que há arco-íris para levar as almas dos índios que já morreram.
A tradição de dançar quadrilhas e bois-bumbás chegou a Porto Velho com os arigós trazidos do nordeste para explorar látex nos primórdios do município. Grupos folclóricos de toda a cidade participam com grande envolvimento da comunidade, que trabalha arduamente durante todo o ano para se apresentar para um público sempre numeroso que prestigia o festejo.
O nome da festa se origina de uma “quadrilha caipira” dos anos 50, que era organizada pelo Sr. Joventino Ferreira Filho, morador do Bairro do Triângulo, em Porto Velho. Na época da festa, em junho, as mulheres colocavam flores de maracujá em seus cabelos para se embelezar e assim surgiu a inspiração para o batismo. Entretanto, as festividades de quadrilha em Porto Velho acontecem desde a década de 1920. Como não havia um espaço adequado para a realização do festejo, ocorrendo em escolas, praças, ruas e quintais, o governo do Estado,em 1983, criou o Arraial Flor do Maracujá, localizado ao lado do Ginásio Cláudio Coutinho. Atualmente o local do evento se encontra em um terreno adequado entre as ruas Farquar e Presidente Dutra.
Anualmente 14 quadrilhas adultas se apresentam no arraial Flor do Maracujá, cada uma tem direito a 50 minutos de performance na arena. As duas quadrilhas com menores notas são rebaixadas para o grupo de acesso e competem no ano seguinte em outra festa folclórica, o Arraial Flor do Cacto, que é classificatória para o grupo especial.
Na Mostra são apresentadas as quadrilhas juninas e os bois-bumbás que é a expressão folclórica mais antiga de Porto Velho, surgido nos idos de 1920, na então Vila de Santo Antônio do Madeira, local onde está sendo construída uma grande usina hidrelétrica.
Mas a primeira mostra folclórica organizada pelo poder público foi em 1981, pela Prefeitura de Porto Velho, por meio da Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SEMEC, com a criação da 1ª Mostra de Quadrilha e Boi-Bumbá, realizada na quadra esportiva da Escola Barão do Solimões, com a participação de quatro bois: Malhadinho, Flor do Campo, Caprichoso e Tira-Cisma. Essa Mostra incentivou o reaparecimento do Boi Brilhamante e a criação do Boi Rei do Campo, em 1982, por Manoel Francisco Miranda, conhecido como Seu Chagas, com o curral no bairro Tucumanzal.
O sucesso da Mostra Municipal incentivou os membros da SECET, órgão de cultura do recém criado Estado de Rondônia, a organizarem a Mostra Folclórica Estadual, realizada em junho de 1982. Naquela edição se apresentaram os seguintes grupos: Brilhamante, Malhadinho, Caprichoso, Rei do Campo e Boi mirim Tira-Cisma. A primeira Mostra Estadual teve dois campeões: o boi Caprichoso e o boi Malhadinho. O Arraial surgiu em decorrência dessas Mostras Folclóricas como forma de agregar os valores culturais regionais. Era então, necessária a criação de um arraial, por isso a equipe responsável pelo departamento de cultura da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Turismo – SECET criou, em 1983, o Arraial Flor do Maracujá, montado ao lado do ginásio de esportes Cláudio Coutinho. A Mostra de Quadrilhas e Bois-Bumbás passou a ser realizada durante o arraial. O Arraial Flor do Maracujá é o maior preservador das danças, lendas, costumes e comidas típicas de Rondônia.



Sabedoria popular: A cura que vem das plantas

O uso de plantas medicinais é um dos traços da cultura brasileira. A sabedoria popular conhece o poder das plantas. Ervas e chás são usados há milhares de anos. Todo mundo já ouviu falar sobre os benefícios de determinado chá ou de medicamentos à base de plantas.

Receitas caseiras podem ser usadas para tratar queimaduras, diarreia, tosse, resfriados e assaduras. A dona de casa   Maria Terezinha Amâncio, moradora do distrito de Nova Califórnia, por exemplo, usa a babosa para tratar ferimentos causados por queimaduras, chá da goiabeira para a diarreia e de manjericão como forma de reduzir a tosse.
Já o esposo de Terezinha, o aposentado Daniel Amâncio, conta que sempre recorre à cura que vem das plantas. “Uma vez estava no meio da mata catando castanha e uma cobra me mordeu e como a nossa vila fica longe, tanto da capital de Rondônia quanto da do Acre, e não podia esperar até chegar ao hospital, tomei um gole de óleo de copaíba, e melhorei. Depois procurei um médico, mas o óleo me ajudou muito. Diminuiu a dor e não fiquei com problema nenhum na perna”, conta feliz Daniel, que ainda revela que sempre utiliza boldo e outras ervas para curar os problemas de saúde. 
A atividade de utilizar as plantas como remédio é uma tradição herdada dos índios, e atualmente é utilizada por toda população amazônica. A tradição está presente no cotidiano das pessoas que utilizam as plantas medicinais para curar enfermidades.
Segundo informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a medicina tradicional baseada em ervas tem seu valor e reduz o sofrimento de milhões de pessoas nos países em desenvolvimento. Os remédios naturais desempenham importante papel social.
Abrigando 50% da biodiversidade mundial, a floresta amazônica guarda fórmulas para tratar diversos males. As receitas, muitas aprendidas com os índios, são passadas de pais para filhos há gerações.
Os fitoterápicos produzem menos efeitos colaterais. Fitoterapia significa tratamento (terapia) através das plantas (phitos). Cada vez mais essa terapia vem sendo aplicada nas mais variadas especialidades médicas. Segundo informações da Associação Brasileira de Fitoterapia, a flora nacional concentra a maior biodiversidade do mundo. São 55 mil espécies catalogadas, o que corresponde a 20% do total distribuído pelo planeta. Com o respaldo de investigações sérias e de anos de uso popular registrados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma lista de 71 espécies eficazes, com suas respectivas indicações de uso.
A vendedora Lucia Silva, conta que raramente leva os filhos ao pediatra. “Prefiro usar os xaropes naturais. Aprendi com minha avó e sempre deu certo. São receitas que curaram nossos antepassados", justifica.
Em Vilhena o mercado fitoterápico está em alta, pois a cidade já conta com mais de três farmácias naturais. As plantas mais procuradas nesses comércios são ameixa e aroeira, que ajudando na cicatrização de ferimentos e dores uterinas. Outra plana muito solicitada é o jatobá, indicado para o tratamento do prolapso, popularmente conhecido como bexiga baixa. A procura é grande também pela quina-quina, sendo que seu serve para diabete, colesterol e menstruação atrasada.
A aposentada Mariana Lima, conta que usa e recomenda o capim-verde, para combater as doenças respiratórias. “Faço como minha avó fazia, recorro primeiro ao remédio caseiro e depois, se não tiver jeito, procuro o hospital. O importante é ficar saudável”, conclui.








Ong desenvolve projeto de capoeira ensinando valores para vida

O projeto “Capoeira na escola”, ensina estudantes de escolas municipais e estaduais entre 6 e 16 anos a arte da capoeira

Atualmente a capoeira é considerada símbolo da cultura afro-brasileira, sendo praticada em diversos países. Em Vilhena a Ong Group Novamente (Nossa Ordem Viva Arte Metafísica em Ensaio Novilúnio Teatral e Environmental), realiza desde 2007, projeto de educação através da capoeira gratuitamente para crianças e adolescentes sob o comando do capoeirista Odair Belarmino, mais conhecido como Ki-suco.
Entre os projetos de capoeira, está o “Capoeira na escola”, onde estudantes de escolas municipais e estaduais, entre  6 e 16 anos, aprendem a arte da capoeira com duas aulas por semana. Cerca de 50 crianças participam do projeto. “A minha alegria é saber que estas crianças têm índice de aprovação de 100%”, destacou Ki-suco.
Também são desenvolvidos todos os anos em Vilhena, o “Capoeirando pela paz”, ocasião onde dezenas de pessoas se juntam e organizam rodas de capoeiras e palestras, enfatizando a luta contra a violência. Além disso, a ONG promove apresentações de capoeira nas praças da cidade, objetivando divulgar a arte marcial e proporcionar integração com a comunidade.
No ano passado, a ONG Novamente, através do capoeirista Ki-suco, teve o projeto “Ginga Vilhena” contemplado pelo Ministério da Cultura. Com isso, mais crianças e adolescentes vilhenenses poderão aprender a arte.
Ki-suco explica que a capoeira melhora a coordenação motora, trabalha a arte da dança, resgata a cultura do povo afro-brasileiro e dissemina o respeito, a amizade, o amor próprio e a disciplina. Valores esses que são levados para a vida cotidiana do aluno.
Na capoeira a música é algo fundamental, que distingue esta arte marcial das outras existentes. “As canções dõa o ritmo para a expressão dos movimentos, retratam o passado da capoeira e relembram os mestres que fizeram parte da história desta arte”, enfatiza Ki-suco.
O berimbau é o principal instrumento utlilizado na capoieira, que marca o movimento da ginga. Ele produz o som, que juntamente com as músicas e as palmas, conduzem os capoeiristas durante a arte marcial.
A música é uma das coisas que cativam Jeferson Menezes de Andrade, 11 anos, que faz capoeira há 5 meses. Ele disse que cantar e “ir na roda”, são as ações que mais gosta de fazer neste esporte.
O funcionário público, Robson Aparecido da Silva, 25 anos, é um dos primeiros alunos do professor Ki-Suco e revela que esta arte transformou seus valores. Ele explica que além de ser uma expressão cultural, a capoeira também ensina coisas importantes. “A capoeira é uma filosofia de vida, representa uma parte da história de nosso país e ensina valores prioritários para a vida, como o respeito e viver a liberdade com responsabilidade”, destaca.
Robson, que pratica capoeira há 12 anos, lembra que quando criança foi levado pelo pai em uma roda de capoeira. O aluno de Ki-suco diz que na ocasião, mesmo muito pequeno, teve o interesse despertado pelo esporte. “A capoeira é uma luta que não se bate, e sim se joga, se dança”, concluiu Robson.
Esta arte também envolve pessoas portadoras de necessidades especiais. É o caso de Osmar do Nascimento Basilia, 24 anos, que é surdo- mudo. O jovem, que é alfabetizado, participa da capoeira há 5 anos.
Osmar escreve seu nome e sua idade numa folha de papel e gesticula, informando que gosta das palmas e dos movimentos da capoeira. Ele é um dos alunos mais assíduos do grupo.
Historia da Ong Group
A ONG Group atua em Vilhena há 25 anos, com o objetivo de conscientizar, aplicar, capacitar, fomentar e divulgar as atividades ambientais, de artes e de diversidade cultural.
A Novamente foi fundada em 02 de março de 1986, idealizada pelo ator e diretor de teatro, Bráz Divino Ferreira da Silva. No início, a ONG era voltada somente ao teatro, porém, depois do primeiro ano, a instituição expandiu suas atividades para outras áreas.
Bráz explica que a ONG desenvolve diversas ações que mobilizam a sociedade para a preservação do meio ambiente, arte e cultura, por meio de projetos, oficinas, peças teatrais e campanhas educativas.
O atual presidente da instituição, Rogério Golfetto, ressalta que as atividades são sempre voltadas para a comunidade, principalmente para as pessoas mais carentes, que geralmente não tem acesso à arte e a cultura.
BOX: Capoeira: luta pela libertação e sobrevivência 
No século XVI, os colonizadores portugueses trouxeram milhões de negros da África para o Brasil, a fim de escravizá-los no cultivo de cana-de-açúcar. Com isso, os escravos viviam em condições desumanas, sendo forçados a trabalhar incansavelmente, sob a pena de sofrerem duros castigos.
Contudo, os negros procuravam alguma forma de se rebelarem e uma delas foi o quilombo (comunidades de difícil acesso, compostas por negros fugitivos). De acordo com pesquisadores, o maior dos quilombos, chamado Palmares, pode ter sido o cenário das primeiras manifestações da capoeira, visto os mais de cem anos de resistência aos ataques de tropas coloniais.
Os negros, na luta pela libertação e sobrevivência, começaram a desenvolver uma arte marcial de defesa. Porém, para não levantarem suspeitas, adaptaram a luta, acrescentando músicas africanas, para que parecesse uma dança na presença dos senhores do engenho.
Assim, cercada de segredos, a capoeira se desenvolveu, sendo ensinada entre os negros como forma de resistência cultural e física dos escravos brasileiros. Segundo alguns estudiosos, o nome capoeira é originário do tupi-guarani e refere-se às áreas de mata rasteira, ou com pequenos arbustos, que seria local de esconderijo para os negros, mas também de lutas, quando encontrados pelos capitães - do - mato.
A capoeira ficou proibida no Brasil, durante décadas, pois era vista como uma prática violenta. Com isso, as pessoas que desobedecessem à proibição poderiam ser presas e até torturadas.
Felizmente, em 1930, mestre Bimba, considerado um importante capoeirista de Salvador, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas, que transformou a capoeira em esporte nacional brasileiro.
Atualmente a capoeira é considerada símbolo da cultura afro-brasileira, sendo praticada em diversos países. Em 2008 a arte foi registrada como patrimônio cultural brasileiro, pelo IPHAN (Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).