Numa época onde o rádio era
o principal meio de comunicação do Brasil, Guider Zolinger, 74 anos, começou a
fabricar artesanalmente aparelhos de rádios. São mais de 50 anos dedicados ao
conserto e montagem de rádios. “Desde criança eu sonhava em ser inventor, ai
comecei a consertar os rádios dos vizinhos, e fui me apaixonando pela
profissão. Então, devagarzinho eu fui me aperfeiçoando, até chegar ao ponto de
fabricar os meus próprios rádios”, relembra.
Com uma pequena oficina
localizada nos fundos de sua casa, quando a saúde ajuda, ele confecciona um
tradicional rádio de caixa, de amplitude modulada (AM). “O radio sempre salvou
nossa vida, pois nos momentos mais difíceis que a gente atravessou eu recorria
à fabricação do aparelho, vendia e conseguia sustentar a minha família”, conta.
Guido tem Mal de Parkinson.
Na pequena oficina nos
fundos de casa, Guido criou dezenas de aparelhos de rádio, que embalaram e
continuam a embalar os dias, tardes e noites de muitos vilhenenses. Muitos
elementos que compõem os rádios produzidos por Guido são de fabricação própria.
“Ele faz o chassi, a caixa, os vidros ele corta e manda por os números e todo o
resto. A única coisa que ele não faz é transistor e resistência. O resto ele
faz tudo”, explica Renata Zolinger, esposa de Guido há 53 anos.
Guido não sabe quantos
rádios fabricou durante sua vida. “Nunca pensei em contar, mas já foram
muitos”, afirma. Guido batizou seus aparelhos de rádios de Canta Brasi. “Os
brasileiros gostam muito de ouvir músicas e de cantar também, então achei que o
nome dos rádios deveriam ser Canta Brasil”, justifica.
Para montar um rádio, Guido
explica que demora, em média, dois dias. “Porque o material está todo
separadinho e é só colocar. O que demora mais é os fios aqui na faixa. Tem que
pegar ondas médias lá, tem que pegar ondas médias aqui, tem que pegar Rádio
Nacional nesse e também naquele. Qualquer um que montar tem que ser faixa
completa”, detalha.
Os rádios produzidos por
Guido são movidos a pilhas alcalinas. “Queima menos com relâmpago”, explica.
Além de uma caixa de madeira chamativa, o interior do aparelho radiofônico
produzido por Guido é um verdade enigma para outros técnicos em eletrônica. “Eu
nunca mostrei pra ninguém o jeito que eu faço”, diz.
Os rádios produzido por
Guido operam em amplitude modulada (AM), e dependendo da faixa selecionada ,
bem como o horário, é possível sintonizar emissoras de vários lugares do
planeta. “Em qualquer caixa ele funciona e pega o mundo inteiro”, reforça.
As emissoras mais pedidas
durante a encomenda dos rádios são as AM locais, como a Planalto e a Rádio
Vilhena, além da Rádio Nacional de Brasília. Também é possível sintonizar
rádios de São Paulo, Rio de Janeiro e de outras localidades do Brasil.
Nas ondas de Guido
O agricultor João da Silva é
morador do município de Chupinguaia foi um dos felizes compradores do radio
fabricado por Guido. João conta que comprou o Canta Brasil há cinco anos e o
aparelho nunca deu problema. “É muito bom o rádio, além de ser bonito lembra o
rádio que minha mãe tinha na casa dela, esses aparelhos de hoje em dia são
todos de plásticos e quebram logo, por isso eu quis comprar o que seu Guido
fabrica”, diz João.
Já o comerciante José da Costa,
que é morador de Cerejeiras, conta que um dos motivos que fez ele adquirir um
aparelho de rádio fabricado por seu Guido foi o fato do rádio conseguir
sintonizar estações do mundo todo. “É muito bom poder ouvir estações de rádios
da Itália, sem falar nas brasileiras como a Rádio Nacional, não é todo aparelho
que consegue fazer isso”, argumenta José.
A jornalista Patrícia da
Veiga, que atualmente vive em Goiânia, conta que comprou o rádio fabricado por
Guido quando era professora na Universidade Federal de Rondônia, em Vilhena.
“Eu comprei o rádio
fabricado por diversos motivos. O primeiro e mais importante é que eu gosto de
ouvir rádio e fiquei encantada com a ideia de ter um aparelho em casa que capta
ondas tropicais. Isso me lembra a minha infância na fazenda, ouvindo Rádio
Nacional de Brasília. Com o rádio que o senhor Guido fez pra mim, posso ouvir
até rádios da Colômbia. É muito útil. O segundo motivo é que na época eu era
professora de radiojornalismo e precisava conhecer tudo sobre rádio. Claro que
eu não aprendi a fabricar um rádio, mas achei fascinante acompanhar sua
fabricação”, diz Patrícia.
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